terça-feira, 10 de maio de 2016

Qual terra comprar e a como compramos nossa terra

Quando decidimos que iríamos mudar para o Extremo Oeste Catarinense e morar na área rural pensávamos que o processo de encontrar nossa terra iria demorar. A terra sonhada teria que preencher muitos quesitos e os preços na região são elevados, acima do acesso a crédito que nós tínhamos no banco (já que não tínhamos dinheiro guardado). Planejávamos conseguir comprar a terra em cerca de dois anos, quando imaginávamos que os preços cairiam devido a crise. Apesar dessas condições decidimos ir espalhando a notícia que queríamos comprar um sítio e fomos nas duas imobiliárias da cidade envolvidas em negócios rurais. Explicamos o nosso desejo de viver no campo, os nossos quesitos em relação a terra e a nossa restrição orçamentária (colocamos um limite de sessenta mil reais). O corretor de uma dessas imobiliárias pareceu entender bem nosso sonho e afirmou que iria nos ajudar a realizar. Assim conhecemos o seu José Scholl. Uma das primeiras pessoas que conseguiu captar nosso sonho e nossas condições com clareza. Depois disso ele passou a buscar terras e nos apresentar os terrenos que mais se aproximassem daquilo que pedimos. Passamos algumas tardes passeando e conhecendo terras nos mais diversos locais de São José do Cedro até chegar no Rancho Vale do Tigre, mas antes de continuar a história de como adquirimos nossa terra vamos explicar quais os nosso critérios:

Lugares altos x Lugares baixos

Paisagens espetaculares que os lugares altos propiciam.

O Extremo Oeste é uma região de topografia bastante acidentada com muitos vales e montanhas e poucas terras planas. Na região a maioria das pessoas prefere terras nos vales tanto para produzir, pois costumam ser terrenos mais planos, como para lazer, para a construção de ranchos a beira dos rios e lajeados (pequenos riachos com muitas pedras). Os altos de montanhas são evitados tanto pelas temperaturas baixas no inverno como pelos fortes ventos que assolam a região eventualmente (em setembro de 2009 um tornado destruiu Guaraciaba, uma cidade vizinha) e também pelas inclinações que impedem os trabalhos de máquinas agrícolas. Nós optamos por buscar as alturas por vários motivos. Somos apaixonados por montanhas é o primeiro deles e imaginar a possibilidade de acordar todos os dias e ver uma paisagem maravilhosa, poder enxergar longe, isso nos atraí muito. Preferimos frio ao calor. Baixadas, especialmente próximas de riachos, tendem a ser úmidas e abafadas, coisa que temos aversão. Já as regiões altas são mais secas e frescas (e com ventos congelantes no frio do inverno). Temos a ideia de construir uma casa preparada para o frio, incluindo uma bela lareira, então não temos o porque fugir de alguns graus a menos no termômetro, pelo contrário, quando nossa casinha estiver pronta, o frio será muito bem vindo! Além disso há o motivo financeiro pois os terrenos altos costumam ser mais acidentados e mais baratos. Por todos esses motivos, vitória das montanhas e dos lugares altos!!!

Terrenos fechados x Terrenos abertos

A configuração perfeita: uma parte central aberta e as periferias do terreno fechada de mata.

Nesse quesito nos referimos a existência de matas e florestas. Nós adoramos florestas, mas um terreno muito fechado tem lá seus problemas a começar de problemas legais e éticos: imagine que você precise derrubar árvores! Além de burocrático (o problema legal) nós queremos plantar árvores e não derrubá-las! (o problema ético). Um outro ponto de vista a ser analisado e a construção de uma casa cercada de árvores ou em campo aberto: pensamos que a casa em campo aberto preenche mais nossos quesitos, pois é uma casa mais ensolarada e consequentemente menos fria e úmida e nos permite ter uma paisagem maior e enxergar mais distante. Talvez numa região mais quente seja interessante uma casa rodeada de árvores para aliviar o calor, mas esse não é o nosso caso. Portanto para nós o terreno perfeito tem uma área aberta para a construção da casa, têm florestas próximas (quanto mais melhor) porém possui corredores de visão para a paisagem. Vitória dos terrenos abertos!!!

Próximo da cidade x Distante da cidade

10 km da área urbana de São José do Cedro e de Guarujá do Sul.

Para nós terrenos próximos da cidade são os que estão a cerca de cinco quilômetros da área urbana e os distantes são os que estão a mais que isso. Temos uma visão de que quanto mais próximo da cidade, mais vulnerável a roubos a propriedade estará, pois os criminosos não costumam ir tão longe para roubar, basta que fique um pouco ermo que é o suficiente, além disso outro fator proibitivo é o preço, terras próximas da cidade são muito, mas muito mais caras, o que faz com que as áreas sejam menores e os vizinhos estejam quase tão próximos como numa cidade. Na verdade nos primeiros quilômetros do entorno urbano praticamente só há chácaras, a maioria de lazer, propriedades com menos de um hectare, próximas uma das outras, alvos atraentes para criminosos e para som alto nos finais de semana de festas. Estabelecemos que desejaríamos uma terra a partir de cinco quilômetros da área urbana. É claro que muito distante tem seus contratempos, a vida de hoje te leva a cidade com alguma frequência (que pretendemos diminuir com o tempo), mas achamos que o custo x benefício é melhor estando distante. E o principal argumento é o preço. Enquanto meio hectare de terra custa cerca de cem mil reais nas proximidades da cidade, o preço cai para dez mil numa distância maior. Vitória da distância!!!

Estrada principal x Estrada secundária

Nessa estrada passa no máximo uns dez carros por dia a baixa velocidade. Nada de poeira. Nada de barulho!

As estradas são a principal forma de acesso ao campo, em lugares como a Amazônia ou algumas regiões litorâneas você pode chegar na sua terra de barco, em outras como o Alasca, você só chega de avião, mas na maior parte do mundo a boa e velha estrada de terra é o caminho. Existem estradas principais, incluindo as rodovias, e estradas secundárias. No Extremo Oeste Catarinense a condição das estradas de terra são muito boas, sendo desnecessário veículos com tração mesmo nos períodos chuvosos e nas rodovias federais há um grande fluxo de veículos. Logo que chegamos em São José do Cedro alugamos uma casa a cerca de um quilômetro da BR-163 e é possível ouvir o barulho constante dos caminhões. Então a primeira opção a ser descartada eram terras nas proximidades das rodovias, pois além do barulho, essas terras parecem ser mais vulneráveis também, pois pessoas de todas regiões do Brasil passam por elas. Para nós a terra deveria estar distante o suficiente para não se ouvir o som dos caminhões passando. Depois analisamos as estradas rurais principais. O grande problema dessas para nós é a poeira. A gente sempre observa os carros passando em velocidade e o poeirão que levanta e vai longe. Para nós o melhor seria uma estrada secundária não muito longe da principal. A velocidade dos carros é menor. Dificilmente um dia perderemos algum animal atropelado. Nossa propriedade não ficará cheia de poeira e mais uma vez, terras em estradas secundárias são mais baratas que terras em estradas principais. Vitória das estradas secundárias!!!

Região de pecuária x Região de lavoura

Tudo do outro lado da estrada são terras de pecuária ou áreas de preservação.

Toda área rual da região se divide entre pecuária ou lavoura. No início da busca não demos muita atenção a isso, mas depois que nosso corretor nos chamou atenção passamos a reparar. Qual a diferença? As regiões de lavoura são "vítimas" de um uso mais intensivo de agrotóxico, você pode sentir o veneno no ar quando ele é dispersado. Já as regiões de pecuária não. Parece pouco mas não é. Um dos principais motivos de deixar a cidade e morar no campo é respirar ar puro. Portanto descartamos viver nas regiões de lavoura. Apenas descartamos viver em regiões com suinocultura, pois o odor é muito forte e há grande emissão de fluídos oriundos das criações fechadas em riachos e no lençol freático da região. E de novo a questão preço: terras de pecuária são mais baratas que terras apropriadas para a lavoura. Portanto vitória das regiões de pecuária.

Terras documentadas x Terras não documentadas

No Extremo Oeste Catarinense ainda não soubemos da existência de terras sem escritura, terras não documentadas, mas mesmo assim esse foi um de nossos primeiros quesitos. A nossa terra deveria ter toda sua documentação em dia para evitar problemas futuros, ainda que isso elevasse o preço. Não é necessário discorrer muito sobre esse quesito. Sem documentação não é possível o cadastro como produtor rural entre outras coisas. Um desconto que para nós não vale a pena. Vitória das terras documentadas.

Outros quesitos

Alguns outros quesitos são um tanto quanto óbvios mas vamos escrever um pouco sobre eles:

- energia elétrica
Poste da CELESC passando dentro da propriedade. Facilidade de acesso a energia.
Queríamos terras que os postes da CELESC não estivessem a uma distância proibitiva. Apesar de sermos informados que a CELESC é obrigada a levar energia até sua propriedade, essa é uma burocracia que queríamos evitar, pois tínhamos em mente coisas como: Essa obrigação é para quando já está morando no local? E até morar lá? Quanto tempo demora? Será que realmente é gratuito? Por isso para nós a terra deveria estar a uma distância que nós mesmos pudéssemos levar a energia caso fosse necessário.

- água

Nascente no limite leste da nossa terra,
Água é vida. A região da terra deveria ter pelo menos alguma fonte de água. Quanto mais acesso à água melhor. Algumas pessoas falam em construção de poço artesiano. Lembre-se apenas que um poço custa a partir de dez mil reais.

- acesso
Estrada de 100 metros que foi facilmente aberta para ligar a via rural até o local da casa.
Uma coisa são as estradas rurais públicas, outra coisa é do limite da cerca para dentro da sua propriedade. Muitas terras altas exigem a construção de estradas em locais muito acidentados e isso encarece e dificulta muito tudo. Por mais que nos dissessem que a prefeitura local constrói acessos descartamos as terras de difícil acesso. Não confiamos em governos...

- preço

Um quesito muito importante: sessenta mil reais! A nossa terra deveria preencher todos os quesitos anteriores com esse valor máximo. Estávamos dispostos a esperar o quanto fosse até que aparecesse algo por esse valor.

Com todos esses quesitos em mente o nosso corretor José Scholl foi buscando terras para nós. Muitas estavam mais caro, outras tinham um acesso muito difícil, algumas não nos agradava de forma geral, mas seu Scholl foi muito persistente na busca. Nos levava em seu carro para nos apresentar terras, abria picadas a facão para conhecermos os terrenos. Buscava proprietários de terras que nos interessava, enfim fez um trabalho muito profissional. Um dia olhando no Google Earth vimos um topo de montanha muito interessante e lá foi seu Scholl falar com o proprietário, seu Laurentino Rockenbach, um dos pioneiros da cidade, que lhe respondeu que não iria vender aquele pedaço no topo da montanha, mas que possuía uma escritura a parte de 4,5 hectares do outro lado e que atenderia o que pedíamos. Numa segunda-feira, 14 de março de 2016, fomos olhar a terra. Chegando no local ficamos impressionados. Era perfeito! Mas não nos animamos muito, pois já tínhamos visto terras muito bonitas e caras. No dia seguinte seu Scholl nos telefonou e disse que o preço estava dentro do nosso alcance!!! Achamos nossa terra!!! Voltamos lá analisar: Exatamente a 10 km da cidade. Uma grande parte plana  no terreno numa média de 680 metros do nível do mar em frente a um vale espetacular. Frente voltada para o nordeste e protegida pela montanha dos ventos do sul. Um bosque em cada um dos limites da terra, algumas grandes árvores isoladas e uma florestas nas costas do terreno no alto da montanha. Uma nascente, uma fonte e um mini açude. O poste do CELESC com baixa tensão passando dentro da terra. Um região de pecuária extensiva com uma floresta de mais de 50 hectares na frente do terreno. Era perfeito! Começamos a levar alguns conhecidos para olhar a terra e opinar e todos achavam muito bom o preço, o local, a paisagem. Assinamos o contrato de compra e venda na sexta-feira, 18 de março de 2016. Na segunda tínhamos pego o crédito consignado na Caixa Econômica Federal e pagado o terreno e dado entrada nos trâmites de transferência de escritura. Tínhamos nossa terra! Era o começo do Rancho Vale do Tigre muito antes do que imaginamos que seria!

2 comentários:

  1. A gente só tinha uma exigência: que fosse na beira de um rio ou lagoa. O Recanto foi o primeiro sítio que vimos e foi amor a primeira vista por parte do Leonardo. Eu fiquei mais reticente mas, de tanto voltar aqui, enquanto olhávamos outros, fui me apaixonando! E olha só, assinamos a compra no dia 29 de março de 2011!
    Outro cuidado que tive, foi com o sinal da internet pois, o Leonardo trabalha em esquema de plantões, fica dias fora de casa e eu não queria ficar completamente isolada da "civilização".
    Abçs!

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    1. Eu também fico um pouco preocupada com essa questão de ficar "fora da civilização", por isso já estamos vendo pra ter internet lá antes de nos mudarmos!! kk O Denis também trabalha em escala de plantões, por isso pensamos nisso.. Bjos!

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